Cinema de horror foi uma expressão que nasceu de uma relação do público e da crítica com a indústria cinematográfica dos Estados Unidos nas primeiras décadas do Século XX. Servia para designar um conjunto de imagens e temas que, ao serem transportados para a tela, provocavam reações de estranhamento e medo no público.

O pesquisador David J. Skal conta, no livro The Monster Show, que os artistas plásticos norte-americanos ficaram profundamente impressionados com o tipo de emoção causada pela estreia de O Gabinete do Dr. Caligari (1920) em Nova York. Era uma obra que misturava forma e narrativa de um jeito absolutamente inventivo e revolucionário.

Com o tempo, o fascínio pelo gênero só cresceu. Muitas porque várias de suas narrativas são experimentais, provocam respostas emocionais físicas e misturam forma e conteúdo como nenhuma outra. No fundo, exploram o limite do que o cinema pode fazer.

Não por acaso, cineastas de diferentes gerações começaram suas carreiras com o cinema de horror. Isso porque, ali, tinham a possibilidade de mostrar domínio de câmera, criar planos inventivos e histórias que poderiam assombrar e até divertir os espectadores por décadas.

Na curadoria das sessões de curtas-metragens da primeira edição do Festival Boitatá, buscamos mostrar um pouco do potencial do gênero. Foram mais de 400 produções inscritas. Optamos por um panorama do que está sendo feito no Brasil – país que tem quase 50 anos de tradição com o horrífico, inaugurado oficialmente nas telas com o lançamento de À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), de José Mojica Marins.

Nas sessões que preparamos para a mostra há dois tipos de produção: as profissionais e as universitárias. Na primeira, selecionamos títulos que tratassem do horror de diferentes formas, seja nas histórias que estão contando quanto nas soluções visuais adotadas pelos realizadores. O resultado é uma janela – bastante completa – do modo como temos produzido esse tipo de história por aqui.

Os curtas-metragens universitários, por sua vez, estão ali para mostrar que bons filmes não precisam de recursos sofisticados para serem feitos. Basta criatividade e engenharia para resolver os problemas de estrutura apresentados aos realizadores.

Esperamos que a mostra de curtas possa demonstrar como o cinema de horror no Brasil é plural, inventivo e cheio de histórias esperando para serem descobertas. Boa sessão!

Rodolfo Stancki

Nelson Rocha Neto